ENERGIA SOLAR EM FOCO: FONTE DEVE CRESCER MAIS DE 300% EM 2016 E GANHA GRANDE DESTAQUE NA MÍDIA
Nos últimos meses a tecnologia solar fotovoltaica tem tido grande destaque na mídia e gerado muita curiosidade nos consumidores. Esse destaque se deve ao crescimento dessa fonte de energia elétrica, que triplicou o número de sistemas instalados de 2014 para 2015 e que deve crescer mais de 300% em 2016.
João Paulo Souza, gestor nacional de vendas da Blue Sol – Energia Solar, concedeu uma entrevista à revista Tecnologia & Vidro. Dentre os assuntos abordados, falou sobre as vantagens de gerar sua própria energia, funcionamento dos créditos energéticos e payback – tempo de retorno do investimento e comparou duas diferentes tecnologias de módulos fotovoltaicos utilizados para a conversão da irradiação solar em energia elétrica: à base de silício cristalino, e de polímeros orgânicos e plástico.
Confira abaixo a entrevista completa:
Quais as vantagens da geração da própria energia?
Sempre que falamos de independência energética, buscamos expor as vantagens tangíveis e intangíveis. Veja, quando falamos dos benefícios mensuráveis, o primeiro tema abordado é, com certeza, economia financeira ou vantagens econômicas. Ter a capacidade de gerar sua própria energia e consequentemente, abater os seus custos com a energia elétrica, é uma vantagem muito importante para que as pessoas busquem fontes alternativas, como a Energia Solar Fotovoltaica por exemplo.
O Brasil se encontra em um momento de crescimento descontrolado da inflação energética, fazendo com que as pessoas que estão no ambiente de contratação regulada (ACR) sintam fortemente os constantes aumentos no custo de energia elétrica no Brasil, tornando o Sistema Solar Fotovoltaico cada vez mais viável quando analisado da Perspectiva Financeira.

Dentro dessa mesma análise, vale ressaltar os benefícios intangíveis, ou como nós gostamos de dizer, as vantagens não só para quem gera energia, mas também para as milhares de pessoas que habitam o nosso planeta. Gerar energia a partir de uma fonte limpa e renovável com autonomia, tem um viés de preservação do meio ambiente, ajudando a diminuir a emissão de CO2 e outros gases poluentes ou impactos ambientais que são gerados pelas fontes não limpas, que usualmente são utilizadas na geração de energia em larga escala. De uma maneira indireta, esses benefícios acabam impactando diretamente na saúde pública, uma vez que a diminuição de incidência de gases poluentes na atmosfera terrestre pode, sem dúvida, ajudar pessoas que tem problemas respiratórios, por exemplo.
Outro benefício que não é percebido no primeiro contato com a tecnologia, é como a implementação desses sistemas capazes de gerar energia no próprio ponto de consumo podem ajudar a gerar empregos e renda em todo o país com a estruturação de novas cadeias produtivas industriais e mesmo de novos serviços para atender à demanda por equipamentos, tais como instalação e manutenção nestes geradores solares.
Percebe que gerar sua própria energia não é algo pequeno? As vantagens são muitas e podem ser diretas e/ou indiretas.
Vantagens:
Economia Financeira;
Independência energética;
Impacto Sócio Ambiental;
Pioneirismo Tecnológico;
Redução da emissão de gases poluentes no planeta;
Movimenta a economia do País e gera empregos;
Como os órgãos geradores e distribuidores de energia enxergam essa geração?
Quando falamos de geração de energia no próprio ponto de consumo, falamos de geradores capazes de alimentar a necessidade energética da própria unidade geradora, e, em alguns casos, gerar energia que vá além do seu consumo e injetar essa energia excedente na rede (Geração Distribuída). Essa independência energética das unidades consumidoras e geração de energia regionalizada acabam, indiretamente, ajudando as distribuidoras de energia a diminuir os custos com investimentos em infraestrutura de transmissão de energia, uma vez que a necessidade de escoamento de energia tende a diminuir devido ao aumento de eficiência da rede atualmente instalada.
De maneira resumida, a geração distribuída traz benefícios para o setor elétrico: ela está no centro de consumo, o que reduz a necessidade de estrutura de transmissão elétrica e evita perdas.
Como é que funciona ou como é feita essa troca de créditos?
A Resolução Normativa 482/2012 e sua revisão, RN 687/2015 (regras que estabelecem as condições gerais para o acesso de microgeração e minigeração distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica e ao sistema de compensação de energia elétrica), ambas da ANEEL, são as regulamentações que definem o sistema de compensação de energia no Brasil.
Essas normativas habilitam o consumidor de energia elétrica a produzir a própria energia e pagar apenas a taxa mínima referente ao uso da rede de distribuição, com possível compensação energética dos créditos gerados pelo excesso de energia em até 60 meses. Ou seja, é possível conectar o sistema de geração fotovoltaica à rede pública de abastecimento, dispensando a necessidade de baterias, uma vez que o excesso de energia produzida e não consumida no momento, é injetado na rede elétrica e torna-se um crédito energético, que poderá ser compensado na fatura mensal de energia.
– Como funciona:
A energia gerada pelo sistema Solar fotovoltaico tende a ser consumida no ato da geração, ou seja, no próprio ponto de geração, mas a energia gerada pode ser superior ao consumo da unidade geradora, ou seja, o excesso de eletricidade gerada pelo sistema fotovoltaico volta para a rede elétrica através do medidor de energia (bidirecional). Esse medidor mede tanto a energia que entra e sai da residência, permitindo que a concessionária de energia compute a quantidade de kWh adicionais os convertendo em créditos de energia. Os créditos de energia podem abater as faturas de energia que estejam registradas no mesmo CPF/CNPJ cadastrados na mesma área de concessão da distribuidora de energia em até 60 meses.
Para gerar energia para funcionamento de um único chuveiro elétrico que é utilizado três vezes por dia, por exemplo, qual a área necessária para captação solar?
São vários os fatores que impactam no dimensionamento de um sistema de geração de energia elétrica fotovoltaica. O perfil energético de quem busca um sistema como esse é apenas a primeira diretriz que irá direcionar o dimensionamento desse sistema.
O potencial solar referente a um sistema geração de energia elétrica fotovoltaica depende basicamente das características físicas do local de implantação e fatores climáticos.
A partir desses dados, é necessário estudar a irradiação solar incidente na região onde o sistema poderá ser instalado a fim de entender como o ciclo do sol se comporta naquela região. Com base nisso, chegamos ao número de HORA SOLAR PICO (HSP), número que irá permitir determinar o número de módulos necessários para gerar a energia que atenda a necessidade energética de quem busca a tecnologia.
De maneira bem resumida, um sistema de 10 kWp instalado em Ribeirão Preto – SP, que tem uma HSP de 4,89, irá performar melhor que o mesmo sistema instalado em São Paulo – SP, que tem 4,75 de HSP. Ou seja, a área necessária varia em função do número de módulos, que por sua vez, varia em função da necessidade de geração somada a irradiação solar na região a ser instalada, orientação cobertura e nível de sombreamento.
Um chuveiro de 4.000 W, funcionando 3 vezes no dia por 5 minutos (15 minutos).
Consumo do chuveiro = (4.000 W * (15 min/60))*30= 30 kWh/mês
1 módulo SFV (310 Wp) em Ribeirão Preto- SP (HSP 4,89) = 35 kWh/mês*
*Considerando as perdas
1 módulo é capaz de alimentar um chuveiro funcionando por 15 minutos por dia durante um mês.
Usando esse mesmo chuveiro como exemplo. Em quanto tempo a instalação de energia solar poderia se pagar, considerando-se a economia gerada pela não utilização da energia elétrica? É possível se fazer essa conta aproximada?
Hoje, devido ao elevado custo da energia elétrica no Brasil, os sistemas solares fotovoltaicos têm apresentado um payback que varia entre 4 e 7 anos, com um retorno anual que tem variado entre 15% até 25%. As taxas de retorno anuais são baseadas no custo da energia em R$/kWh e no total gerado em kWh pelo sistema.
Pensando como um investimento, tecnologia que apresenta tempo de vida que varia entre 25 e 30 anos, que se paga entre o 4° e 7° ano, com rentabilidade acima da taxa mais atrativa no mercado (atualmente), tem se mostrado sim, um bom investimento.
O surgimento de filmes de captação de energia solar transparentes, como os que serão produzidos pela Sunew no Brasil/CSEM, representam uma evolução nesse setor?
Sem dúvida é uma evolução da tecnologia. Agora, a discussão é um pouco mais técnica quando falamos de escala comercial e entramos na relação custo x benefício da tecnologia.
As células OPVs – Organic Photovoltaic Cells (material à base de polímeros orgânicos e plástico) apresentam características de performance muito inferiores aos SFV (material à base de silício e vidro). Essa diferença de performance, acaba criando uma barreira natural de implementação dessa tecnologia (OPV) em escala comercial em um curto prazo.
Esses materiais fotovoltaicos orgânicos (OPV) que estão sendo anunciados pela Sunew, quando instalados em uma fachada de edifício podem gerar 50 watz/pico por metro quadrado. Isso é normal, pouco ou muito quando comparado com a tecnologia que já existia até aqui?
Se comparado com os módulos fotovoltaicos tradicionais, essa geração é baixa, visto que os módulos tradicionais tem capacidade de 155 kWp/m².
Se pensarmos na capacidade de geração, na cidade de Ribeirão Preto – SP, um módulo SFV de 310 Wp (área do módulo – 2 m²) gera 35 kWh/mês (considerando todas as perdas). Se adotarmos a mesma linha de raciocínio para o OPV, 2 m² representam 100 Wp, que gerariam 11 kWh/mês também na cidade de Ribeirão Preto – SP.
O que podemos concluir? O OPV necessita de uma área muito superior aos módulos SFV tradicionais para gerar a mesma energia, sendo essa uma barreira muito grande de implementação desse sistema, visto que área disponível para instalação é normalmente um ponto crítico no dimensionamento dos sistemas.
Seria possível a disseminação de coberturas de garagens residenciais (tamanho 6 x 6 m em média) dotadas de vidros fotovoltaicos (transparentes ou não) se popularizarem? Nesse caso, uma fonte de captação desse tamanho seria capaz de suprir a residência de que forma – durante um dia de captação? (Somente lâmpadas? Somente aparelhos eletrônicos?)
Não acreditamos que esse sistema (OPV) possa substituir os módulos tradicionais em escalas comerciais num curto prazo. Veja, na pergunta anterior nós ilustramos como a área disponível para instalação é um fator crítico, que impacta diretamente na capacidade de geração de um sistema.
Um sistema SFV tradicional que possa ser instalado em uma área de 37 m², tem uma potência de 5 kWp com módulos de 2m² de 310wp cada, tem uma capacidade de gerar aproximadamente 550 kWh/mês.
Essa energia é, com certeza, capaz de alimentar por completo uma casa de médio porte.
Fazendo essa mesma projeção com o OPV, que apresenta 50 Wp/m², seria possível implementar um sistema de 1.8 kWp com a mesma área, gerando aproximadamente 198 kWh/mês.
Geração incapaz de alimentar uma casa tradicional, que tem consumo médio que está entre 250 à 300 kWh/mês.
Por que a instalação e a manutenção de energia fotovoltaica ainda é tão cara? O que é possível se fazer para que ela seja popularizada?
A implementação de um sistema solar fotovoltaico hoje, não apresenta mais característica de alto custo, uma vez que o retorno sobre o investimento tem se mostrado cada vez mais rápido, gerando ganhos expressivos ao longo dos 25/30 anos de vida do sistema.
De modo que a tecnologia passa a ser nacionalizada, ou seja, fabricada no Brasil, além da redução da carga tributária que esse processo de nacionalização da produção acarretará sobre os periféricos que compõem essa tecnologia, novas linhas de financiamento com prazos mais extensos e taxas atrativas tendem a ser disponibilizadas com uma burocracia reduzida.
Nós acreditamos que esses são os drives que ditam as tendências no que diz respeito à redução de custos sobre a tecnologia e, consequentemente, aumento da acessibilidade ou popularização da tecnologia.
O Governo poderia ter uma ação mais eficaz nesse sentido?
O governo tem demonstrado esforços para fomentar o mercado de energias renováveis no Brasil. A normativa 687 de novembro de 2015 é, sem dúvida, um grande demonstrativo que existe um interesse também por parte do governo. Agora, é claro, existem muitas coisas que podem ser implementadas para que os custos de implementação de sistemas solares fotovoltaicos sejam reduzidos a uma proporção que o tornem cada vez mais acessível à população de um modo geral.
Outro marco importante no mercado de energia solar fotovoltaica, foi a criação do ProGD – Programa de Desenvolvimento da Geração Distribuída de Energia Elétrica, lançado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) no dia 15/12/2015. O ProGD tem como responsabilidade ampliar e aprofundar as ações de estímulo à geração de energia pelos próprios consumidores, com base nas fontes renováveis de energia (em especial a solar fotovoltaica). O Programa pode movimentar pouco mais de R$ 100 bilhões em investimentos, até 2030.
Entre essas ações, destacam-se como objetivos do grupo de trabalho do ProGD:
Criação e expansão de linhas de crédito e formas de financiamento de projetos para a instalação de sistemas de geração distribuída nos segmentos residencial, comercial e industrial;
O incentivo ao estabelecimento de indústrias fabricantes de componentes e equipamentos usados em empreendimentos de geração a partir de fontes renováveis, englobando o desenvolvimento produtivo, tecnológico e a inovação, bem como o estabelecimento de empresas de comércio e de prestação de serviços na área de geração distribuída a partir de fontes renováveis;
A promoção da atração de investimentos, nacionais e internacionais, e favorecer a transferência e nacionalização de tecnologias competitivas para energias renováveis;
O fomento à capacitação e formação de recursos humanos para atuar em todos os elos da cadeia produtiva das energias renováveis.
*Entrevista veiculada na edição 104 da revista Tecnologia & Vidro – Março/Abril – 2016